A actuação da Igreja Metodista na Educação Básica em Angola iniciou-se em 1885, com a chegada do bispo William Taylor e 45 mulheres e homens em missão, a erguerem escolas, hospitais e igrejas no serviço ao povo Kimbundu. Nos dois primeiros anos, estabeleceram as suas actividades para além de Luanda, ao longo do Rio Kwanza, em Nhangue-a-Pepe, Quiongua, Quéssua, Hombo a Njinji, Mufuque e Mucondo. Essas missões tinham como princípio o autossustento, que definiu a identidade metodista em Angola.
Um dos principais efeitos da missão foi o despertamento e a capacitação de líderes autóctones, como Florinda Bessa, João Gaspar Fernandes, Mateus Pereira Inglês, João Leão Webba, Maria Chaves e Adão Gaspar Domingos, que serviram à Igreja e à sociedade, impulsionados pela mensagem da libertação dos oprimidos, proclamada pelo próprio Jesus, nos Evangelhos.
Para dar suporte às muitas escolas rurais da Igreja Metodista e atender à crescente necessidade de escolarização do povo Kimbundu na área urbana, em 1933 foi criada a Escola Primária da Missão Evangélica de Luanda, conhecida popularmente como Escola da Missão. Isso determinou geograficamente o local onde se estabeleceu, na até hoje denominada Rua da Missão, uma das principais vias da Capital.
A Escola da Missão caracterizou-se por assegurar os estudos das crianças em classes mistas de meninas e meninos e por introduzir a prática dos desportos como o andebol, o basquete, o voleibol e o futebol, além do teatro e da cultura musical. Em 1937, passou a oferecer no turno da noite a alfabetização, o ensino primário e educação técnica para adultos. A escola tinha a sua actuação restringida pelo governo colonial português ao ensino até o quinto ano, pois ao povo Kimbundu era negada a possibilidade de continuar os estudos além desse nível. Em muitos momentos, essa proibição foi contornada, com a Missão Metodista enviando jovens para estudos no exterior, como António Agostinho Neto, Deolinda Rodrigues, Eva Chipenda, Ismael Abraão Gaspar Martins, Elísio de Figueiredo, Loidiana de Almeida, Emílio de Carvalho dentre muitos.
Dessa forma, por meio do conhecimento, do método e da disciplina, a Escola da Missão gerou senso de autonomia de pensamento e acção entre angolanos sob domínio colonial, o que os tornou conscientes da espoliação e da humilhação a que eram submetidos. Essa percepção evoluiu para o compromisso com as lutas de libertação para a independência e a soberania do país. Destacam-se na Direcção da escola nessa fase as missionárias Irene W. Shields e Blackburn, o primeiro director angolano, o professor Nobre Pereira Dias e os subdiretores para as escolas rurais Major Manoel Neto e Isaac Aço. O início da luta de libertação resultou no aprisionamento e na morte de muitos dos dirigentes metodistas e de ex-alunos da Escola da Missão pelo governo colonial, que também definiu o fechamento da Escola em 1961.
A reabertura da Escola da Missão, no ano lectivo de 2020, no mesmo terreno de origem da escola em 1933, implica o reconhecimento do imenso bem que aquela primeira fase de actividade gerou. Implica a retomada pelos nacionais de um empreendimento interditado pelo governo colonial. Reafirma o compromisso da Igreja Metodista Unida com a formação de líderes, mulheres e homens, que sejam incansáveis na defesa do seu povo, no entendimento de que a libertação é processo contínuo e ainda se faz necessária.
Reestabelecer a Escola da Missão ao lado da Universidade Metodista de Angola permitirá às gerações fazerem a leitura inteira dessa linha de continuidade, que é mais forte que as interrupções violentas da História. As crianças e os adolescentes de Luanda terão novamente as portas abertas para o conhecimento, o domínio científico e o desenvolvimento de uma atitude ética diante da vida. Assim, como novos líderes, poderão gerar condições de dignidade para todos os angolanos, em um senso de nação fraterna, confiante e generosa com os seus filhos e as suas filhas.
A Escola da Missão integra uma rede global de mais de 800 universidades e escolas em todos os continentes, afiliadas à International Association of Methodist Schools, Colleges and Universities(IAMSCU). Sustenta-se nos compromissos do movimento metodista com a educação de acesso universal, para a promoção humana, para o diálogo entre a fé e a ciência, para a liberdade de pensamento e expressão. São preceitos firmados desde a criação da Kingswood School pelo reverendo John Wesley, na Inglaterra, em 1748, durante a Revolução Industrial.